Posted: 10 Dec 2015 04:59 AM PST
Nos dias 1º e 2 de dezembro deste ano
foi aplicada a edição 2015 do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) PPL
(pessoas privadas de liberdade) cujo público alvo são os menores infratores
apreendidos em unidades socioeducativas e os maiores presos em unidades
prisionais; além deles, os candidatos que não puderam participar do Enem 2015 no
mês de outubro devido a cancelamentos, como em algumas cidades que, na ocasião,
enfrentavam enchentes, também fizeram esta versão do exame.
O tema da redação do Enem PPL 2015 foi
“O histórico desafio de se valorizar o professor” e a
proposta contou com quatro textos motivadores em sua coletânea.
Almeida (1998), além de relembrar o
prestígio que os professores tinham, ressalta que este advém, desde aquela
época, do saber e do conhecimento e não do reconhecimento salarial e
mercadológico, já que “estes detinham um prestígio social que estava em claro
desacordo com a remuneração salarial”.
Este primeiro texto motivador situou
historicamente o candidato ao Enem PPL 2015 em relação à profissão docente e
tem como objetivo gerar duas reflexões que podem ser desenvolvidas na redação,
já que tem tudo a ver com o “histórico desafio” do tema da redação:
- Por
que, ao longo do tempo, a figura do professor perdeu o prestígio social e,
assim, foi desvalorizada?
- Por
que, desde antigamente, o professor não é valorizado em relação a
remuneração salarial?
Para responder a primeira pergunta, o
candidato deveria levar em consideração a mudança pela qual a sociedade
brasileira passou ao longo dos anos; será que a escola acompanhou essas
transformações sociais, morais, tecnológicas etc? O filósofo e professor Mário
Sérgio Cortella sempre diz que “a escola é do século XIX, o professor do século
XX e o aluno do século XXI”, o que é uma realidade, mas esta justifica a
desvalorização docente? É óbvio que não.
Com toda a certeza houve uma espécie de
inversão de valores na qual os alunos não respeitam mais os professores como
antigamente e, não só eles, mas também seus pais, responsáveis e toda a
sociedade, chegando aos governos municipais, estaduais e federal visto às
condições precárias de trabalho nas redes públicas de ensino. Neste contexto, a rede privada não é inocente,
já que muitas escolas particulares não remuneram seus professores como
poderiam.
Já para responder a segunda pergunta, o
candidato ao Enem PPL 2015 deveria refletir sobre os motivos que levaram a essa
histórica desvalorização salarial e formular hipóteses a esse respeito, já que
essa questão está relacionada ao investimento que o Brasil fez e faz na
educação. Em países nos quais os indicadores da qualidade de ensino são altos,
como Finlândia e Coreia do Sul, por exemplo, os salários dos professores de lá
são muito superiores ao salários dos docentes brasileiros, assim como os
investimentos em educação. Além disso, nesses países, os melhores alunos são
motivados e incentivados a irem para cursos de licenciatura, ao contrário do
que ocorre no Brasil, onde há, inclusive, falta de professores, principalmente
de matérias exatas.
O segundo texto motivador é
uma peça publicitária do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul na qual
a figura docente é relacionada à figura do mágico, afirmando que, na verdade,
não há nenhuma mágica e sim trabalho. Pensamos ser este texto um pouco
contraditório no contexto da proposta e em relação ao primeiro texto motivador,
pois pode levar o candidato a pensar que não adianta nada reajustar o salário
do professor, pois este aumento seria uma mágica que nada adiantaria. Temos em
mente que, realmente, apenas um reajuste salarial não resolve todos os
problemas do professor, mas é um grande e importante passo que deve vir
acompanhado com melhora na infraestrutura física das escolas, com sólidos
planos de carreira, com outros benefícios como lecionar em escolas próximas com
materiais didáticos de qualidade etc.
O terceiro texto fonte, por
sua vez, é um adaptação de Nóvoa (1995) no qual as questões sociais e salariais
são novamente interligadas, já que ambas, segundo o texto, estão passando por
um processo de degradação, mas, apesar disso, a profissão ainda revela facetas
atrativas, as quais não são mencionadas, mas poderiam ser levantadas pelo
candidato. Para Nóvoa (1995), a perda de prestígio da profissão está atrelada à
mudança no papel social do professor, já que este deixou de ser a única fonte
de conhecimento e o único agente cultural ao qual o aluno tem acesso.
Assim sendo, o terceiro texto fonte nos
faz refletir sobre como podemos valorizar o professor neste contexto no qual a
internet, as redes sociais, a televisão e os demais meios de comunicação nos
inundam com informações 24 horas por dia. Como deve ser o professor do século
XXI?
O quarto e último texto
motivador, finalmente, é outra peça publicitária que visa comemorar o dia
do professor – 15 de outubro – e, possivelmente, assim como toda a proposta,
levou o candidato ao Enem PPL 2015 a lembrar-se dos professores que passaram
pela sua vida escolar.
Portanto, o conjunto da proposta de
redação do Enem PPL 2015 contextualizou historicamente o candidato e
proporcionou reflexões sobre a desvalorização profissional que assola o
professor no passado e no presente a fim de ele também refletir sobre como
evitá-la no futuro. Como podemos vencer esse desafio a fim de valorizarmos este
profissional tão importante e fundamental na nossa sociedade? Era isso que o
candidato deveria responder.
*CAMILA DALLA POZZA
PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além
disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais
didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
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