No início desta
semana foi realizada a 2ª fase do vestibular 2016 da UNESP, aplicada pela
VUNESP, e na segunda-feira, dia 14 de dezembro de 2015, os candidatos fizeram a
prova de linguagens, códigos e a redação, cujo tema foi “Publicação de
imagens trágicas: banalização do sofrimento ou forma de sensibilização?”.
As propostas de
redação da UNESP são famosas pelas inovações em relação aos seus temas; na
prova de meio de ano de 2014, por exemplo, o tema abordou a tolerância da
sociedade brasileira em relação à violência sexual contra as mulheres, um ano e
meio antes da proposta de redação do Enem 2015.
A coletânea textual e as orientações da proposta de redação são o ponto de partida para a produção da dissertação-argumentativa, já que ambas especificam o tema. Portanto, o candidato, neste caso, deve posicionar-se frente as duas opções dadas pelo tema: a publicação de imagens trágicas banalizam o sofrimento ou são uma forma de sensibilizar as pessoas? Ou seja, o candidato, levando em conta a coletânea, deve fazer essa pergunta a si mesmo e responder em seu texto; não é adequado ficar “em cima do muro” quando o tema dá opções.
Imagens da Proposta de Redação da Unesp. Foto: Reprodução/caderno de provas.
As fotos retratam
diferentes crianças vítimas de diferentes conflitos. A primeira é um marco
quando se fala na Guerra do Vietnã; a vila onde a menina vivia foi atingida por
um bombardeio no dia 08 de junho de 1972 e ela teve mais de 50% do corpo
queimado por queimaduras seríssimas e, ao ser fotografada, corria e gritava por
ajuda junto a outras crianças. A segunda foto, por sua vez, retrata uma pequena
menina do Sudão, país africano assolado pela pobreza, pela miséria e pela fome,
sendo observada por um abutre; sabe-se que ela sobreviveu e o fotógrafo
arrependeu-se e se matou, pois pensou que ao invés de fazer a foto, poderia
ajudar a criança. A terceira foto é a mais recente e foi tirada neste ano; ela
retrata o corpo do garoto sírio encontrado em uma praia da Turquia, vítima de
um naufrágio do bote com o qual fugiu de seu país.
O dito “Texto 1”,
de autoria de Susan Sontag, questiona, em diversos sentidos, a publicação de
tais imagens trágicas e a nossa posição frente a elas: estas fotos realmente
nos ensinam algo? Se sim, o quê? Nós mudamos em vermos essas imagens tristes?
Elas são necessárias? Segundo a autora, de acordo com alguns estudiosos, a
enxurrada deste tipo de fotos nos deixa insensíveis, pois já vimos situações
muito drásticas.
O “Texto 2” é
uma adaptação de um texto de Susan Moore no qual a autora aponta o
sensacionalismo da grande mídia e das redes sociais, mais especificamente doTwitter,
e argumenta que não é preciso ver imagens de crianças mortas para saber que
assassinar crianças é errado; para ela, isso chega a ser obsceno e não deve ser
visto como algo a ser consumido.
Já para o autor do “Texto
3” a publicação de imagens chocantes é necessária fim de que a população
não se esqueça de tais tragédias e que, assim, menos situações horripilantes
similares aconteçam. O “Texto 4” segue a mesma linha do texto anterior
ao citar a posição do diretor da ONG Human Rights Watch, Peter
Bouckaert, ao publicar a foto do garotinho sírio morto na Turquia. Para ele,
ofensivo é o que ocorreu com esse menino e outras crianças quando há muito a
ser feito para evitar suas mortes.
Os dois primeiros
textos posicionam-se contrários à publicação de imagens trágicas e, assim,
pensam que isso banaliza o sofrimento e os dois últimos textos posicionam-se
favoráveis à publicação, já que pensam que pode haver alguma conscientização.
Deste modo, o candidato deve posicionar-se e fundamentar-se nos textos com os
quais concorda; além disso, o ideal é firmar a opinião, mas também
contra-argumentar em relação à outra opção, pois, assim, o tema será abordado
de uma maneira completa e não parcialmente.
*CAMILA DALLA POZZA
PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além
disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais
didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
Postado em: https://www.infoenem.com.br
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