Posted: 20
Aug 2015 09:58 AM PDT
Um fenômeno na
esfera escolar pública brasileira tem chamado a atenção da mídia e da
sociedade como um todo ao longo deste ano: o número crescente de escolas
municipais e/ou estaduais que passaram a ser dirigidas pela Polícia Militar.
O tema gera debates acalorados entre as pessoas favoráveis e contrárias à
medida, entre pais e policiais envolvidos e educadores que pensam se tratar
de um retrocesso.
As gerações
passadas, de nossos pais e parentes mais velhos, como tios, estudaram em
escolas que estavam se abrindo à classe trabalhadora, já que desde o início
da escolarização do Brasil até meados do século XX, a escola brasileira era
destinada apenas para os meninos da elite. Com a democratização do ensino, os
colégios abriram as portas para as meninas e para os filhos das camadas mais
humildes da população, processo que se deu nem um acompanhamento reflexivo
acerca do trabalho docente.
Ao longo do
Ditadura Militar, as escolas serviam como incentivadoras do regime e no
nacionalismo exacerbado que é característico de regimes militares e, assim, a
disciplina Educação Moral e Cívica fazia parte do currículo e ensinava ética,
moral e civismo de acordo com a ideologia militar. Meninas tinham suas meias
¾ e suas saias medidas na entrada da escola e maquiagens e adornos eram
proibidos, além do cabelo sempre precisar estar preso; o penteado dos meninos
também era fiscalizado, assim como o comportamento de todos.
Com o passar do
tempo e com as conquistas feministas, as garotas tomaram mais espaço e as
calças compridas foram permitidas, assim como adornos pequenos e um batom
discreto. Hoje, em muitos colégios, o uniforme é, apenas, a camiseta da
instituição e os alunos podem manifestar sua identidade de maneira mais
livre.
Porém, há escolas
que parecem estar andando na direção contrária, pois estão sendo dirigidas
pela Polícia Militar com um rigor disciplinar que assusta alguns educadores.
Os estudantes são obrigados a usarem uniformes que lembram fardas (e que
devem ser compradas pelos alunos) e devem bater continência aos policiais,
aos professores e aos colegas que possuem patentes dentro do colégio; além
disso, manifestações de carinho são estritamente proibidas, assim como cortes
de cabelo fora do padrão, maquiagens, adornos etc.
Somente no estado
de Goiás, por exemplo, há 26 colégios que são dirigidos pela Polícia Militar
e, segundo a instituição, o desempenho dos alunos nas avaliações externas
aumentou muito, além da violência dentro e ao redor da escola ter diminuído.
O argumento favorável considera que a vigilância e a disciplina militar
afastam o crime, o tráfico de drogas e a indisciplina dessas escolas, já que
grande parte delas está localizada em áreas violentas e pobres das cidades; é
o caso da escola estadual Prof. Waldocke Fricke de Lyra, em Manaus, na qual
havia muito vandalismo e medo de assaltos.
Alguns professores
e alunos não se adequaram ao novo sistema e saíram do, agora, 3º Colégio
Militar da PM Prof. Waldocke Fricke de Lyra, já que os docentes são
subordinados à direção da Polícia Militar. Apesar das controvérsias, muitos
pais apoiam a medida por pensarem que o desempenho de seus filhos melhorou e
o índice de criminalidade caiu nos bairros nos quais as escolas estão
localizadas.
O estado de Goiás
libera o ranking como a unidade federativa que possui mais colégios militares
(26), seguido por Minas Gerais (22) e Bahia (13). Para alguns especialistas
em educação, a medida é um retrocesso, pois padroniza os alunos e impõe a
eles um comportamento, além de inibir questionamentos e uma postura mais
crítica, afinal os policiais, inclusive, permanecem armados dentro das
escolas.
E você, leitor, o
que pensa sobre o assunto?
Até a próxima
semana!
*CAMILA DALLA POZZA
PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além
disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais
didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
Postado em: https://www.infoenem.com.br
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