Desde o início deste ano, a sociedade
brasileira tem sido telespectadora de pelo menos três guerras entre aplicativos
de internet e serviços nas quais a concorrência, a preferência
do consumidor, a qualidade do atendimento e da prestação de serviço e os
impostos devidos estão no centro dos embates. Estamos nos referindo às brigas
comerciais entre o Netflix® e as operadoras de TV a cabo, o Uber®
e os taxistas e o WhatsApp® e as operadoras de telefonia móvel.
Como o Enem já abordou em suas propostas de redação temas relacionados a internet,
pensamos ser importante abordar esta questão na coluna de redação, até porque
trata-se de uma discussão atual que envolve a grande maioria dos brasileiros,
já que o uso da rede mundial de computadores e dos smartphones só
cresce no Brasil.
De forma simplista, já que o Netflix utiliza
um aplicativo para fornecer o seu serviço, os aplicativos chamam muito a
atenção e atraem cada vez mais pessoas por serem gratuitos ou por cobrarem
valores muito menores do que os praticados pelos concorrentes, além de
oferecerem um serviço mais personalizado de acordo com o perfil e as
necessidades de seu público alvo. Além disso, por terem sido criados pensando
na internet em todos os sentidos, a divulgação dos mesmos é
rápida e abrangente e, consequentemente, sua disseminação também.
Para as operadoras de TV a cabo,
trata-se de uma concorrência desleal, já que, segundo elas, o Netflix®
não paga os mesmos impostos, argumento rebatido pela empresa. As
operadoras desejam regulamentar esse tipo de serviço no Brasil que já
conta com quase três milhões de assinantes com apenas cinco anos presente no
país.

Outra briga
envolvendo um aplicativo e uma série de empresas é a entre o WhatsApp®
e as operadoras de telefonia e internet móvel. Estas acusam
o aplicativo, que foi comprado pelo Facebook®, de usarem o número
de celular de cada cliente para criar um usuário e, por meio deste número,
realizar chamadas de voz. Recentemente, o WhatsApp® lançou as
chamadas de voz, pois até o momento era possível apenas enviar mensagens de
voz e, mais uma vez, os impostos estão no cerne do embate, pois
as operadoras alegam que pagam taxas por cada número de celular ativado no
Brasil, o que não é feito pelo aplicativo. Para os órgãos de defesa do
consumidor, não se trata de uma operadora pirata, mas sim de chamadas de voz
realizadas através da internet e, portanto, diferentes de
ligações entre dois celulares.
Apesar destas duas
brigas de cachorros grandes, como se diz no Português popular, nenhuma causou
tanta confusão e gerou manifestações e até agressões como a briga entre o Uber®
e os taxistas. O Uber® é um aplicativo de celular pelo qual um
carro pode ser chamado pelo cliente a fim de buscá-lo e levá-lo aonde quiser,
isto é, trata-se de um serviço de transporte alternativo, semelhante aos
táxis, porém com algumas diferenças que estão no centro dos debates.
O motorista Uber®,
pelas regras do aplicativo, deve sempre estar vestindo roupas sociais e estar
dirigindo um carro preto, de preferência de luxo, com ar-condicionado e
bancos de couro, do qual arca com todos os custos, diferentemente dos
taxistas que ganham descontos no momento da compra do carro, assim como obtém
isenção de alguns impostos e não pagam IPVA, direitos não concedidos aos
motoristas do aplicativo. No entanto, os taxistas devem pagar uma licença para
trabalhar e a cada cinco ano devem passar por exames, algo que não precisa
ser feito pelos motoristas do Uber®.
Taxistas que são
contra o aplicativo por considerarem que ele concorre deslealmente,
realizaram manifestações em várias cidades brasileiras e alguns chegaram a
agredir motoristas Uber® e a cometer atos de vandalismos contra
seus carros.
Um dos contra-argumentos relacionados
a estas três guerras comerciais diz respeito à qualidade do serviço: muitas
pessoas afirmam que os taxistas e as operadoras de TV a cabo e de telefonia e internet móvel
deveriam se preocupar em melhorar a qualidade de seus serviços e de seu
atendimento ao invés de reclamarem de concorrência desleal e de pirataria. Ou
seja, o direito de escolha e a opinião do consumidor estão no centro
destes três debates, além de toda a questão da customização e da
globalização e acessibilidade dos serviços por meio da internet,
já que estamos falando, no caso das operadoras, de grandes marcas de grandes
empresas.
Não podemos nos
esquecer de que as operadoras de telefonia móvel lideram, há um bom tempo, a
lista de reclamações de órgãos de defesa do consumidor pela má qualidade no
atendimento e pela cobrança indevida de taxas extras.
E você, leitor,
como se coloca nesta questão? De qual lado você está e por quê?
Até a próxima
semana!
*CAMILA DALLA POZZA
PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além
disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais
didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
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