26/11/2017 Por Margarida Moraes
Algumas pessoas ‘escorregam’ ao usar
alguns verbos na construção de frases, mesmo simples, do cotidiano. Vejamos um
desses verbos ‘trabalhosos’ nestas duas canções:
“(…) Custo a entender
Como pode o encanto do amor se perder
Custo a entender
Quem apanha inocente sem que nem porque
Custo a entender
Como o peito padece e ainda quer se entregar
Custo a entender
E é por isso que eu tenho receio de amar(…)”
https://www.vagalume.com.br/pericles/custo-a-entender.html
Como pode o encanto do amor se perder
Custo a entender
Quem apanha inocente sem que nem porque
Custo a entender
Como o peito padece e ainda quer se entregar
Custo a entender
E é por isso que eu tenho receio de amar(…)”
https://www.vagalume.com.br/pericles/custo-a-entender.html
“(…) A nossa história de dar um tempo custou caro,
fez doer
Corremos risco de outro alguém aparecer
Mas o amor que a gente sente há de prevalecer!(…)”
https://www.letras.mus.br/sorriso-maroto/1474829/
Corremos risco de outro alguém aparecer
Mas o amor que a gente sente há de prevalecer!(…)”
https://www.letras.mus.br/sorriso-maroto/1474829/
Em ambas temos o emprego do verbo custar, no
sentido de ‘ser penoso’ ou ‘representar dificuldade’, mas só o segundo exemplo
traz o emprego de acordo com a norma culta. A construção ditada pela gramática
tradicionalmente é:
sujeito (o que custa) + verbo CUSTAR + objeto
indireto (o ser a quem custa)
Assim, no caso da primeira música, a construção
obedeceria à norma culta se fosse “Custa-me entender / como pode o
encanto do amor se perder”. Ou, obedecendo à fórmula apresentada:
Entender (sujeito – na verdade uma oração
subordinada substantiva subjetiva) + custa + a mim (objeto
indireto)
Custa-me, também, ver estes dois casos de desvio. Quem
nunca ouviu (ou disse!) que operou o que quer que fosse?
“Eu operei o apêndice no mês
passado.”
“Meu filho operou as amídalas nas férias”…
“Meu filho operou as amídalas nas férias”…
Pois é… essas frases só estariam de acordo com a
norma culta, se o emissor fosse um cirurgião!
Assim como no primeiro caso, há uma confusão entre
que faz e quem recebe a ação verbal. No caso do verbo operar, apenas o
cirurgião pode ser o sujeito ativo, então teríamos “Eu passei por uma
operação no apêndice no mês passado” e “O médico operou as amídalas do
meu filho nas férias” ou algo semelhante, mas o emissor não será o sujeito
desses verbos.
O outro caso tem aparecido com frequência na mídia:
“O Jornal X repercutiu a notícia
de que…”.
É mais uma situação de imprecisão vocabular, já que
as notícias é que repercutem, e os meios de comunicação devem divulgar
a notícia.
Teremos, portanto, de acordo com a norma culta:
“A notícia repercutiu nos meios de
comunicação” ou
“O Jornal X divulgou a notícia de que…”
“O Jornal X divulgou a notícia de que…”
Espero que essas informações repercutam e
esclareçam as dúvidas de muitos leitores.
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é
formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).
Postado em:
https://www.infoenem.com.br/cuidado-com-o-agente-das-acoes-verbais/
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