Temos aqui uma
situação que envolve os gêneros dos substantivos. Como se sabe, os
substantivos são palavras que sofrem flexão, ou seja, alteram-se de acordo
com o gênero (masculino/feminino), número (singular/plural) e grau
(aumentativo/diminutivo).
Vamos observar, na
música “Pagu” de Rita Lee, o emprego de alguns substantivos que apresentam
uma forma feminina e outra masculina:
(…) nem toda feiticeira é
corcunda,
nem toda brasileira é bunda meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem (…)
(In: https://letras.mus.br/rita-lee/81651/ Acesso
em 29-12-2015)
Nesse trecho
encontramos feiticeira, cuja forma no masculino é feiticeiro;
brasileira (aqui o adjetivo foi substantivado), que apresenta o masculino brasileiro e homem,
cujo feminino (irregular, pois há alteração no radical) é mulher.
Esses casos obedecem às regras de flexão de gênero, mas há algumas palavras
que se apresentam como casos especiais de flexão.
Um dos casos
especiais de flexão de gênero ocorre quando o gênero da palavra não coincide
com o sexo biológico do ser vivo. (Vamos fazer uma revisãozinha bem básica de
genética – machos apresentam cromossomos sexuais X e Y e fêmeas apresentam
XX, e quando nos referimos a gênero, em Gramática, não necessariamente
fazemos referência a essa distinção genética.) Dessa forma, podemos encontrar
palavras nomeando seres vivos as quais só apresentam a forma masculina ou só
a forma feminina, sendo necessário acrescentar os termos ‘macho’ e ‘fêmea’ se
quisermos indicar o sexo biológico do ser. São os chamados substantivos
epicenos. Vejamos alguns exemplos:
§ Cobra – substantivo
feminino (cobra-macho x cobra-fêmea)
§ Crocodilo –
substantivo masculino (Crocodilo-macho x Crocodilo-fêmea)
§ Tamanduá, corvo,
jacaré, sapo são outros exemplos.
Outro dos casos
especiais é o substantivo comum de dois gêneros, ou somente comum de
dois. Agora a palavra fica invariável e mudamos o artigo que a antecede,
se quisermos definir o sexo do ser. Vejamos alguns:
§ O agente – a agente
§ O colega – a colega
§ O estudante – a
estudante
§ O motorista – a
motorista
E por fim, chegamos
ao caso que deu início a este texto! Há substantivos que não sofrem
alteração, quer indiquem um ser do sexo feminino ou um ser do sexo masculino.
O gênero do substantivo pode nem ‘bater’ com o sexo do ser! São os chamados
substantivos sobrecomuns. Neste caso a palavra é sempre masculina ou sempre
feminina, independentemente do ser que está sendo denominado. Veja alguns casos,
já inseridos num contexto.
§ O acidente teve duas
vítimas (substantivo feminino), um homem e sua filha.
§ Ela era tão
generosa que todos a consideravam um anjo (substantivo
masculino).
§ Os membros (substantivo
masculino) do Clube de Mães organizaram um bazar
beneficente.
§ Muitas pessoas (substantivo
feminino) participaram das competições: homens, mulheres e crianças.
E nesse último caso
se encaixa a palavra ídolo: somente na forma de substantivo
masculino. E porque Rita Lee é meu ídolo, eu comecei o texto com
um trecho de uma música composta por ela.
Até a próxima!
Margarida Moraes é formada em
Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Mais de 20 anos de experiência,
corretora do nosso sistema de correção de redação e responsável pela
resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora é
colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são publicados todos os
domingos. Não perca!
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