Posted: 06 Oct 2015 11:30 AM PDT
Os termos “ética” e “moral” são constantemente
utilizados tanto no dia-a-dia quanto nas provas do Enem, em vários cadernos.
Inclusive, já foi assunto da redação no ano de
2009, com o tema: “O indivíduo frente a ética nacional”.
Afinal, essas palavras são sinônimas? Não! Então
vamos ver a diferença entre seus conceitos.
Segundo o filósofo Paul Ricoeur, a ética vem antes da
moral e está ligada à liberdade individual. A moral, construída posteriormente,
é advinda das leis e normas sociais.
A palavra ética vem do grupo ethos, que possui duas
formas de grafias diferentes. Êthos (com eta) significa a casa do homem, a
morada, abrigo estável. Éthos (com épsilon) refere-se ao comportamento
resultante da repetição constante de um mesmo ato, que se torna um hábito. O
ethos, então, designa o lugar (morada do indivíduo) onde hábitos são formados.
A palavra latina mores (a qual originou moral) foi uma tradução do grego ethos,
o que explica a difícil distinção entre esses conceitos.
No senso comum, essas palavras se confundem e são
utilizadas sem a denotação filosófica adequada. E isso é preocupante porque uma
mesma ação pode ser analisada legalmente, socialmente e individualmente. Quando
essas áreas são misturadas, a crítica sobre a ação gera diversos problemas.
Um exemplo disso foi o ocorrido no caso dos ataques ao
jornal francês Charlie Hebdo no início deste ano. Em um primeiro
momento, o mundo parou em apoio ao jornal, em um processo de identificação (Je
Suis Charlie = Somos todos Charlie) como solidariedade pelas mortes
ocorridas, em nome da liberdade de expressão. Isso ocorreu por uma análise
moral, já que é um hábito da sociedade dos países ocidentais a valorização da
liberdade de expressão. É muito famosa, inclusive, a frase atribuída a
Voltaire: “Posso não concordar com uma palavra que dizes, mas defenderei até a
morte o direito de dizê-las”.
Passado o impacto imediato do ocorrido, outras
perspectivas ganharam voz na análise do caso, ligadas muito mais à ética, ao
pensar o indivíduo. Realmente tudo pode ser dito, mesmo que ofenda o outro? A
liberdade de expressão é um valor a priori da construção social? Onde ficam os
outros ideais inerentes à democracia como não violência, tolerância, liberdade,
igualdade, fraternidade (aceitação da diferença)?
A violência não é justificável, mas pode ser entendida.
Afinal, ilustrar (com a bunda para cima!) o profeta de uma religião que tem
como preceito não representar com imagens seus líderes religiosos é, no mínimo,
intolerante!
E para quem acha que o problema se resume a confrontos
religiosos, analise a charge do mesmo jornal, sobre o recente caso da criança
morta em praia turca na crise migratória.
*Tradução livre. À
esquerda: (A prova de que a Europa é cristã: os cristãos marcham sobre as
águas; os muçulmanos afundam) À direita: (Bem-vindos, migrantes. Tão perto…
Promo! 2 menus infantis pelo preço de um).
Analisando casos como esse, é possível perceber a
importância de separar aspectos individuais daqueles determinados como uma
convenção do conjunto social para realizar análises críticas dos eventos que
vivenciamos.
Postado em: https://www.infoenem.com.br
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