Posted: 23
Oct 2014 07:33 AM PDT
A grade de correção da redação do Enem possui um
item específico, próprio do exame, que diz respeito à elaboração de uma
proposta de intervenção social – a quinta competência avaliada pela banca – que
deve ser desenvolvida acerca do tema que, por sua vez, tem como tradição ser de
cunho social e estar contextualizado no cenário brasileiro.
Nesta competência, o candidato deve elaborar uma
proposta de intervenção social plausível, ou seja, que possa, na realidade, ser
colocada em prática e, se possível, com detalhes. A ausência de uma proposta de
intervenção social em uma redação do Enem resulta na nota zero na quinta
competência avaliada pela banca.
Apesar desta especificidade da prova de redação do
Enem, a proposta de intervenção social pode ser elaborada em demais exames nos
quais os temas das propostas de redação exijam ou possibilitem o
desenvolvimento de uma solução ou de uma resposta a uma pergunta.
§ “Há exagero na relação entre humanos e animais de
estimação?” – 2008 (meio de ano):
§ “O homem: inimigo do planeta?” – 2009
§ “A bajulação: virtude ou defeito?” – 2012
§ “Corrupção no Congresso nacional: reflexo da
sociedade brasileira?” – 2014
Temas como estes exigem uma resposta por parte dos
candidatos e a ausência de uma resposta configura como um não cumprimento total
do tema e da proposta de redação.
Além da obrigatoriedade da resposta, o candidato
deve atentar-se para a qualidade desta resposta que, por sua vez, deve estar em
consonância com o restante do texto, ou seja, de acordo com o tema e com os
argumentos desenvolvidos ao longo da dissertação-argumentativa.
A resposta ou a intervenção social, além de estarem
de acordo com o restante do texto, isto é, além de serem coerentes devem
respeitar os direitos humanos e, portanto, não devem ser exemplos de discursos
radicais e fundamentalistas. Não podemos confundir liberdade de expressão com
discurso de ódio.
A liberdade de expressão é uma garantia
constitucional, mas quando por meio dela um discurso de ódio de cunho
preconceituoso, racista, homofóbico, xenofóbico, machista, fundamentalista etc
é proferido devemos nos posicionar de maneira contrária, já que devemos buscar
viver em uma sociedade mais amigável que debata, sem ferir os direitos humanos,
questões que dizem respeito a grupos sociais alvos de preconceitos como
homossexuais, travestis, transexuais, transgêneros, negros, índios, mulheres
dentre outros.
Podemos exemplificar a diferença entre liberdade de
expressão e discurso de ódio relembrando a fala do então candidato à
Presidência da República Levy Fidelix no debate promovido pela rede Record de
Televisão no dia 29 de setembro último. Ao ser questionado pela então candidata
Luciana Genro acerca das família homoafetivas, Fidelix declarou-se contra a
questão, o que configura liberdade de expressão, porém, ao afirmar que deve-se
combater e enfrentar essa minoria (a população LGBT) e mantê-la longe dele o
candidato proferiu um discurso de ódio.
Além disso, Fidelix mostrou que, além de não
respeitar a população LGBT, confunde temas, já que relacionou homossexualidade
com pedofilia (talvez o fez propositalmente) ao mencionar que o Papa Francisco
expulsou do Vaticano um padre pedófilo. Homossexualidade e pedofilia são
questões distintas e a fala do candidato, ao tecer esta relação equivocada, coloca
que todo homossexual é pedófilo, o que é um erro grosseiro.
Discordar de algo é normal, é um direito, mas
colocar-se contra ao ponto de proferir um discurso de ódio não é normal e temos
o dever de combater este tipo de declaração a fim de conscientizarmos as
pessoas sobre a importância do respeito e da educação.
O Enem, ao colocar como exigência a consonância
para com os Direitos Humanos, não está apenas sendo politicamente correto, mas
também está promovendo uma conscientização de seus candidatos.
Portanto, não devemos confundir, em nossas redações
e em nossas vidas, liberdade de expressão (que deve ser promovida, acima de
tudo, de modo educado e respeitoso) com discurso de ódio.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português
pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área
da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa,
Literatura e Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades
públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários
materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação
(MEC).
Fonte:
InfoEnem
http://www.infoenem.com.br
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