31/12/2017
Por Margarida Moraes
E dentro dessa classe de palavras há mais algumas
subdivisões. Os substantivos podem ser abstratos ou concretos
(quanto à sua existência depender ou não de outros seres); dentro do grupo dos
concretos ainda podemos ter substantivos comuns ou próprios;
quanto à sua estrutura e/ou formação, eles podem ser simples ou compostos
(só um ou mais de um radical) ou ainda primitivos (mais próximos do
radical) ou derivados (criados a partir do acréscimo de afixos ao
radical, na maioria dos casos).
No caso da passagem de Papai Noel a papai-noel,
temos um caso especial de derivação, em que não há acréscimo de sufixo ou de
prefixo – temos as mesmas letras, mas a palavra mudou de classe (ou, nesse
caso, de subdivisão dentro da classe dos substantivos): é a derivação
imprópria. Temos a passagem de um substantivo próprio (nome que
individualiza um ser, como Brasil ou Corinthians) a substantivo
comum (nome que se aplica a um ou mais seres que apresentam as mesmas
características, como país ou time).
Esse fenômeno ocorre com frequência com personagens
históricos, artísticos ou literários, cujas características são tão marcantes
que seus nomes passam a designar qualquer ser que se assemelhe. Assim, ainda
segundo Bechara, “aprendemos a ver no Judas, não só o nome de um dos
doze apóstolos, aquele que traiu Jesus; é também a encarnação mesma do traidor,
do amigo falso, em expressões do tipo: Fulano é um judas” (nesse
caso, como substantivo comum, grafado com inicial minúscula). Assim como com
Judas, ocorre também com dom-joão (ou don-juan) – homem galanteador,
irresistível às mulheres; cicerone – guia de estrangeiros, o que dá
informações sobre o lugar (de Cícero, orador romano que se orgulhava em
apresentar as maravilhas de Roma aos visitantes) ou benjamim – o filho
predileto.
O mesmo fenômeno se verifica na passagem do nome
(ou sobrenome) de fabricantes, criadores ou locais de origem de alguns objetos:
- Estradivários = violino, de Stradivárius
- Guilhotina = equipamento criado por J. I. Guilhotin
- Macadame = pavimentação criada pelo engenheiro Mac Adam
- Sanduíche = refeição criada pelo conde de Sandwich
Assim, por meio de mais esse processo, o idioma
sofre acréscimos de novas palavras, numa contínua metamorfose, que vai
imprimindo novas facetas ao velho e bom português.
Para aproveitar a ocasião, vou ainda distinguir
ANO-NOVO (substantivo composto, masculino, que se refere à passagem da
meia-noite do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro, o ano-bom dos
portugueses e o réveillon dos franceses) e ANO NOVO (substantivo simples
mais adjetivo, sem hífen, com significado literal de doze novos meses).
Feliz Ano-Novo e até 2018!
1
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 1999.
Margarida Moraes é formada em Letras pela
Universidade de São Paulo (USP).
Postado
em:
https://www.infoenem.com.br/derivacao-impropria-mudando-de-uma-classe-de-palavras-para-outra/
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