Posted: 22 Oct 2017 10:00 AM PDT
O senso comum (aquele que não deve ser
usado para fundamentar a argumentação nos textos dissertativos, como bem
explica a profª Camila neste artigo) costuma
apresentar os sinônimos como palavras que apresentam o mesmo
significado.
Segundo o Dicionário Eletrônico
Houaiss: “diz-se de ou palavra que tem com outra uma semelhança de
significação que permite que uma seja escolhida pela outra em alguns
contextos, sem alterar a significação literal da sentença”. Trocando em
miúdos: os termos têm quase o mesmo significado. Vejamos o emprego de
dois termos sinônimos neste texto de Bocage:
“Assim como as flores vivem
A minha Lília viveu;
Assim como as flores morrem
A minha Lilia morreu.
(…)A minha Lília viveu;
Assim como as flores morrem
A minha Lilia morreu.
Em parte da minha essência
Minha essência pereceu;
Não vivo senão metade:
A minha Lilia morreu.(…)”
Minha essência pereceu;
Não vivo senão metade:
A minha Lilia morreu.(…)”
O poeta empregou “morrer” e “perecer”
para indicar a ‘extinção da existência’. Poderia ainda ter optado por expirar,
falecer, entregar a alma ao Criador (lançando mão de um eufemismo) ou ainda
esticar as canelas, bater as botas (usando construções disfêmicas – só
para lembrar: disfemismo é o oposto de eufemismo).
O que impossibilita a simples
substituição de uma por qualquer outra das demais são pequenas nuances no
significado, nuances essas que podem estar relacionadas ao sentido ou ao grau
de formalidade da situação em que serão empregadas. Analisemo-las então:
- Morrer – é o termo mais genérico, indicando ‘deixar de viver’;
- Perecer – este termo implica violência ou sofrimento;
- Falecer – costuma ser mais formal
No trecho do poema, existe a ideia de
sofrimento, o que justifica a escolha do perecer, e não do falecer,
para referir-se à essência, à alma do eu-lírico. Como o texto tem alto grau de
lirismo, os eufemismos também seriam adequados.
Os eufemismos e disfemismos
relacionados à ideia de morrer são em número tão grande que poderíamos ocupar
todo o espaço desta coluna com eles: ‘descansar’, ‘ir para o céu’, ‘virar
anjinho’, ‘virar estrelinha no céu’ no caso de uma pessoa benquista; já para as
não tão queridas encontramos ‘abotoar o paletó’, ‘vestir o paletó de madeira’,
‘comer grama pela raiz’, ‘amassar o barro com as costas’, ‘ir para a cidade dos
pés juntos’ e outras tantas, numa lista tão grande quanto a criatividade das
pessoas.
Portanto, quanto mais amplo for o
vocabulário do emissor, menor a chance de empregar um termo inadequado ao
contexto. E, por outro lado, quanto mais vasto (observe que não repeti o termo
‘amplo’) o conhecimento léxico do receptor, menos dificuldades este terá na
compreensão e interpretação de textos. E, não custa lembrar, essa ampliação de
repertório depende de leitura e de consulta ao velho e bom dicionário.
Até a próxima semana!
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