Posted: 26 Mar 2015 11:56 AM PDT
Caro leitor,
Imagine que, em um mesmo dia de sábado,
você tem dois compromissos: um churrasco na hora do almoço, em uma chácara com
piscina e, à noite, um casamento religioso e a recepção em um salão de festas.
Você iria com a mesma roupa nos dois eventos?
As normas de etiqueta e de decoro
(relativo ao comportamento) nos orientam, juntamente com o bom senso, a não
irmos com a mesma roupa a um churrasco na hora do almoço e a um casamento Ã
noite, pois o primeiro evento é de caráter informal e o segundo é de caráter
formal. Ao churrasco, podemos ir com roupas informais e do dia a dia, até
podemos levar roupas de banho, pois, no nosso caso, há uma piscina que é sempre
bem vinda. Por outro lado, o casamento requer uma vestimenta formal, no mÃnimo
um traje esporte fino (dependendo do desejo dos noivos, diga-se de passagem),
pois trata-se de uma cerimônia religiosa (a qual devemos respeitar, inclusive,
na nossas escolhas de roupa) e de uma festa mais elaborada.
A LinguÃstica diz que não. Há duas modalidades
de lÃngua, a oral e a escrita e, em paralelo, há duas variedades:
a formal e a informal. Dentro dessas variedades, há outras mais relacionadas a
aspectos geográficos (urbana e rural), de gênero (homem e mulher e as gÃrias
dos diversos grupos de representação como gays, transexual, travestis etc),
sociais, econômicos dentre outros.
Assim, devemos seguir as modalidades e
as variedades requeridas pelo contexto no qual estamos inseridos. Em uma
entrevista de emprego, por exemplo, devemos falar de modo formal, já que
estamos conversando com alguém que está nos avaliando e que, provavelmente,
caso a entrevista seja positiva, será o nosso superior na hierarquia da
empresa. Já em um encontro com amigos em um barzinho, por exemplo, estaremos
conversando com uma pessoa igual a nós, isto é, do mesmo nÃvel e, portanto,
podemos falar de modo informal.
O mesmo ocorre ao escrevermos. Você
escreveria, na mesma variedade linguÃstica, uma mensagem por e-mail para o seu
professor da universidade e outra mensagem para um amigo? Não. Apesar de ambas
estarem na modalidade escrita, as variedades podem ser diferentes e são, pois
sempre tendemos a nos adequarmos à situação de comunicação.
Em uma mensagem para o professor da
universidade, devemos nos dirigir com polidez, com respeito, ou seja, de
maneira formal; já em uma mensagem para um amigo, também devemos mostrar
respeito, mas podemos fazê-lo com mais intimidade, carinho e, portanto, de
maneira informal.
Esses exemplos foram postos para
fazermos com que você, leitor, reflita acerca da variedade linguÃstica
existente no Brasil e sobre como devemos nos adequar nas mais diversas
situações de comunicação, orais e escritas, nas quais estamos envolvidos no
nosso dia a dia.
Na redação do Enem 2015, por se tratar de uma situação
avaliativa na qual devemos escrever uma dissertação-argumentativa, isto é, um
tipo textual de caráter escrito e formal, devemos atentar às regras gramaticais
da LÃngua Portuguesa e seguir determinados padrões. Não devemos escrever
gêneros formais como escrevemos gêneros informais, para interlocutores Ãntimos.
Durante a semana passada, o
Jornal Hoje, da rede Globo,
exibiu uma série de reportagens a respeito da lÃngua que falamos no Brasil e
tratou, de maneira quase inédita, das variedades linguÃsticas brasileiras. O
“quase inéditas” deve-se ao fato de haver, nas reportagens, entrevistas de
linguistas como Ataliba Teixeira de Castilho (professor da USP e UNICAMP) e
Rodolfo Ilari (UNICAMP) explicando que não há certo e errado e sim adequado e
inadequado dependendo do contexto da situação de comunicação no qual estamos
inseridos. Falas de linguistas, normalmente, não são incluÃdas em matérias
jornalÃsticas sobre lÃngua e linguagem no nosso paÃs; esperemos que esse seja o inÃcio de uma mudança.
Deste modo, caro leitor, esperamos que
tenhamos contribuÃdo para a sua reflexão acerca da adequação no momento de
falar e escrever.
Postado em:
https://www.infoenem.com.br
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