18/03/2018
Por Margarida Moraes
"Deixa eu entrar
dentro do seu coração
Descobrir pouco a pouco a paixão(…)”
(https://www.vagalume.com.br/avenida-brasil-novela/voce-de-mim-nao-sai-luan-santana.html )
Descobrir pouco a pouco a paixão(…)”
(https://www.vagalume.com.br/avenida-brasil-novela/voce-de-mim-nao-sai-luan-santana.html )
“O que é imortal
Não morre no final
E se distante é assim…
Isso não vai ter fim”
Esses dois casos de combinação de palavras nos
versos das músicas apresentam uma redundância, um excesso de palavras, já que a
ideia de um dos termos já está contida no outro. Nesse caso, temos a ocorrência
do pleonasmo vicioso que, segundo o gramático Celso Cunha, é uma
“superabundância de palavras para enunciar uma ideia.”
“– Entra pra dentro, Carlinhos.” (REGO, J. L. Menino do Engenho)
Há também os ‘excessos líricos’ (definição minha!),
as redundâncias criadas com a intenção de realçar, de destacar uma ideia. Esses
são os pleonasmos considerados figuras de linguagem. Vejamos os
casos abaixo:
“Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã”
(https://www.vagalume.com.br/chico-buarque/cotidiano.html )
Temos um sorriso que não é um qualquer, um simples
sorriso, mas tem a característica de ser pontual. Nesse caso, deixou de ser uma
repetição vazia, desnecessária. O mesmo acontece nos casos abaixo:
“Bandeira branca, amor / Não posso mais
Pela saudade que me invade / Eu peço paz
Saudade mal de amor, de amor / Saudade
Dor que dói demais / Vem meu amor
Bandeira branca / Eu peço paz”
(https://www.vagalume.com.br/dalva-de-oliveira/bandeira-branca.html )
Outra situação que não é considerada vício de
linguagem é a dos epítetos da natureza. Segundo Celso Cunha, expressões
como céu azul, mar salgado, prado verde não apresentam reiteração
viciosa. Nelas o “adjetivo insiste sobre o caráter intrínseco, normal ou
dominante do objeto. É uma forma de ênfase, um recurso literário.”1
Vejamos alguns casos na poesia e na MPB:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!” (Fernando Pessoa)
“(…) Pois diga que irá
Irajá, Irajá
Pra onde eu só veja você
Você veja a mim só
Marajó, Marajó
Qualquer outro lugar comum
Outro lugar qualquer
Guaporé, Guaporé
Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, Céu azul
Onde haja só meu corpo nu
Junto ao teu corpo nu(…)”
(https://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/vamos-fugir.html )
Assim, reflitamos: é necessário repetir a ideia?
Vai criar um determinado efeito estético ou de sentido quando lido o texto? Ou
o trecho poderia ficar mais conciso e objetivo sem a repetição? Use esse
raciocínio para decidir se mantém ou não uma determinada construção.
Até a próxima semana!
1 CUNHA, C; CINTRA Lindley. Nova Gramática do
Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d)
Margarida Moraes é formada em Letras pela
Universidade de São Paulo (USP).
Postado em:
https://www.infoenem.com.br/pleonasmo-afinal-ele-e-sempre-proibido/
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