Possíveis Temas Redação Enem 2018: Desigualdade de Gênero
08/03/2018 Por Camila Dalla Pozza
Hoje, dia 8 de março, é mais um dia
internacional da mulher. A data surgiu após um incêndio matar centenas de
operárias em uma indústria têxtil em Nova Iorque, Estados Unidos, em 1857. As
funcionárias reivindicavam redução na jornada de trabalho e licença maternidade
quando foram impedidas de sair do prédio por policiais e, infelizmente,
morreram.
Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgou novos dados sobre a desigualdade de gêneros no
Brasil, um tema, infelizmente, atual e relevante para os futuros participantes
do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e demais vestibulares. O exame, inclusive,
já abordou a questão da violência contra a mulher na prova de 2015 (veja)
e devido ao grande movimento pela igualdade de gêneros no país pode voltar a
abordar o tema sob este aspecto.
Mulheres são diferentes dos homens, isso é óbvio. O
feminismo e as mulheres não buscam nem pretendem ser iguais aos homens; o
objetivo é alcançar uma igualdade de gêneros na qual homens e mulheres tenham
as mesmas oportunidades, as mesmas liberdades, os mesmos salários etc.
respeitando as diferenças.
Como exemplo podemos citar a questão da educação e
do mercado de trabalho brasileiros em relação às distinções postas entre
mulheres e homens. Segundos dados do IBGE, as mulheres passam mais anos
estudando do que os homens, porém ainda há grandes diferenças de salários e
ainda somos minoria em cargos de chefia. Para os pesquisadores, a crise
econômica gerada pela recessão enfrentada pelo país gerou instabilidade em determinados
grupos de trabalhadores e as mulheres estão inseridas em um grupo vulnerável,
já que muitos empregadores alegam que é caro contratar mulheres por conta, por
exemplo, da licença maternidade.
Pesquisas também apontam que as mulheres se afastam
do trabalho seis vezes mais do que os homens quando engravidam e têm filhos e,
quando voltam ao trabalho, correm um sério risco de serem demitidas. A grande
questão é que, se não fôssemos nós, o mundo seria despovoado; inclusive os
empregadores, patrões e gerentes de recursos humanos não existiriam, pois
ninguém nasce de chocadeira nem vem com uma cegonha.
Uma outra diferença é o tempo dedicado aos afazeres
domésticos. Mulheres dedicam muito tempo aos cuidados da casa e das crianças do
que os homens: 18 horas versus 10 horas semanais e esse tempo varia de região
para região do Brasil e depende também da etnia. Mulheres negras trabalham um
pouco a mais em casa do que as mulheres brancas, mas o fato é que todas nós
temos, pelo menos, uma dupla jornada diária e a doméstica não é remunerada.
Falando em remuneração, ainda ganhamos menos do que
os homens, cerca de 30%, em todos os cargos e áreas e essa diferença aumenta
com o aumento do nível escolar, ou seja, quanto mais educação formal, maior a
distinção de salários entre mulheres e homens. A diferença chega, segundo
pesquisa realizada pela empresa de recrutamento Catho, em 42%:
Já no âmbito social, não temos as mesmas liberdades
que os homens. Ninguém questiona um homem acerca da roupa que ele está
vestindo, do horário em que ele está fora de casa, do porquê ele está sozinho
em uma balada ou do motivo pelo qual ele não se casou ou não teve filhos.
O assédio moral e sexual e o feminicídio
atingem milhares de brasileiras todos os dias. A cada duas horas, segundo o
IBGE, morre uma mulher no Brasil. Só em 2017, 4.473 mulheres foram
assassinadas; já os casos de feminicídio atingiram 946 mulheres, um aumento de
16,5% em relação ao ano de 2016.
Neste contexto, devemos ressaltar que a Lei do
Feminicídio é recente no Brasil, pois foi aprovada e sancionada apenas em
2015, sem contar que estamos lidando com número de registros oficiais e devemos
considerar os casos não registrados.
Das vítimas de feminicídio, cerca de 50% tiveram
como algozes homens da família (maridos, companheiros, namorados, pais, irmãos
e demais parentes). Estima-se que 33% dessas vítimas foram assassinadas por
seus maridos, companheiros ou namorados.
Além disso, a vítima, mesmo depois de morta, passa
por um processo de culpabilização, isto é, muitas pessoas de seus
círculos de influência pensam que essa mulher foi a culpada. O mesmo ocorre com
mulheres assediadas e estupradas, como se elas tivessem pedido para serem
assediadas ou estupradas por usarem roupa curta ou justa, por estarem sozinhas
na rua ou em uma boate, dentre outras justificativas absurdas que só disseminam
o machismo.
Deste modo, devemos pensar, repensar e refletir
acerca do machismo e do patriarcado e de como podemos e devemos fazer do dia
internacional da mulher mais um dia de luta, força e união contra as
desigualdades de gênero. Aos futuros participantes do Enem 2018, busquem informações e dados recentes
de pesquisas de fontes confiáveis e estudem esse tema.
Sugerimos a leitura dos seguintes textos:
- Estatísticas de gênero: responsabilidade por afazeres afeta inserção das mulheres no mercado de trabalho (confira os dados);
- Cresce o nº de mulheres vítimas de homicídio no Brasil; dados de feminicídio são subnotificados: (veja a matéria completa);
- Mulheres ganham menos que os homens em todos os cargos e áreas, diz pesquisa: artigo na íntegra.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é
graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas e do Curso Online do infoEnem. Além disso, também
participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive
prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
Postado
em:
https://www.infoenem.com.br/possiveis-temas-redacao-enem-2018-desigualdade-de-genero/
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