17/12/2017 Por Margarida Moraes
Natal, época de trocar presentes, mas mais
importante do que isso, época de reflexão. E minhas reflexões me levaram de
volta à infância e a algumas músicas a respeito do “aniversariante” mais famoso
deste mês (as aspas não são de modo algum irônicas, apenas uma ressalva devida
aos meus colegas de História, já que há referências a ele nos documentos
históricos, porém as datas… ah, como os calendários flutuaram ao longo da
História!). Uma das músicas de que me lembrei fez sucesso na voz de Roberto
Carlos (outra figura presente nos finais de ano hehe):
O Homem de NazarethEi! está chegando o ano dois mil 1
Tanto tempo faz que ele morreu
O mundo se modificou,
mas ninguém jamais o esqueceu
(…)
Ei, irmão, vamos seguir com fé,
tudo o que ensinou
O Homem de Nazareth
(…)
Ele era o rei mas foi humilde o tempo inteiro
Ele foi filho de carpinteiro
e nasceu em uma manjedoura
(…)
Ele modificou o mundo inteiro
Ele revolucionou o mundo inteiro(https://www.vagalume.com.br/chitaozinho-e-xororo/o-homem-de-nazareth.html )
E outra, diretamente do fundo do baú, já que esse
cantor, Nélson Ned, acabou caindo no esquecimento foi esta:
Simples
“Ele nasceu tão pobrezinho
Numa manjedoura tão simples
Ele cresceu, ele viveu e ele morreu
Tão simplesSimples, Simples
Simples é o meu Jesus
Simples, Simplesa
Aquele que morreu na cruz(https://www.vagalume.com.br/nelson-ned/simples.html)
Em ambas, aparece o termo manjedoura (com
‘j’, embora a etimologia tenha registros com ‘g’) e em minhas divagações fui
levada a reflexões etimológicas sobre o termo.
Durante toda a minha infância, montando presépios
no final de novembro ou início de dezembro (período do chamado Advento,
em algumas religiões, que vem do latim ‘adventus‘, chegada), sempre
achei que a manjedoura era um bercinho. Afinal de contas, havia um bebê deitado
ali…
Mesmo conhecendo a narrativa bíblica, em que o
casal só conseguiu abrigo em um estábulo, nunca havia passado pela minha mente
infantil que aquele era o objeto mais parecido com um berço que poderia haver
naquele local, mas também nunca pensei ‘o que faz um berço dentro do estábulo?’
Apenas muito mais tarde, ao estudar francês e
italiano (depois de passar pelo latim na universidade) e juntei as peças desse
quebra-cabeças da minha infância: a manjedoura era, na verdade, um comedouro!
O termo comedouro, derivado por sufixação do
verbo comer é muito mais frequente no nosso cotidiano, mas restou, descendente
direto do verbo latino manducare, o verbo manger no francês e mangiare
no italiano. Também no português esse termo já foi empregado como verbo
(documentado no século XVI, segundo o Dicionário Etimológico de Antônio Geraldo
Cunha) e hoje, empregamos apenas como substantivo, no sentido de algum alimento
especial.
E a manjedoura? Local para comer, para
colocar o alimento para que seja comido. E o termo vem do italiano mangiatoia.
O animais do estábulo cederam gentilmente seu comedouro para o recém-chegado
(lembram da referência ao advento?)
É isso! Espero não ter maçado os não religiosos,
mas as reflexões surgiram mesmo da curiosidade a respeito da origem das
palavras.
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela
Universidade de São Paulo (USP).
Postado em:
https://www.infoenem.com.br/sobre-reflexoes-natalinas-e-etimologicas/
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