segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Sobre Reflexões Natalinas e Etimológicas


17/12/2017 Por Margarida Moraes


Sobre Reflexões Natalinas e EtimológicasNatal, época de trocar presentes, mas mais importante do que isso, época de reflexão. E minhas reflexões me levaram de volta à infância e a algumas músicas a respeito do “aniversariante” mais famoso deste mês (as aspas não são de modo algum irônicas, apenas uma ressalva devida aos meus colegas de História, já que há referências a ele nos documentos históricos, porém as datas… ah, como os calendários flutuaram ao longo da História!). Uma das músicas de que me lembrei fez sucesso na voz de Roberto Carlos (outra figura presente nos finais de ano hehe):

O Homem de Nazareth
Ei! está chegando o ano dois mil 1
Tanto tempo faz que ele morreu
O mundo se modificou,
mas ninguém jamais o esqueceu
(…)
Ei, irmão, vamos seguir com fé,
tudo o que ensinou
O Homem de Nazareth
(…)
Ele era o rei mas foi humilde o tempo inteiro
Ele foi filho de carpinteiro
e nasceu em uma manjedoura
(…)
Ele modificou o mundo inteiro
Ele revolucionou o mundo inteiro 
(https://www.vagalume.com.br/chitaozinho-e-xororo/o-homem-de-nazareth.html )
E outra, diretamente do fundo do baú, já que esse cantor, Nélson Ned, acabou caindo no esquecimento foi esta:
Simples
Ele nasceu tão pobrezinho
Numa manjedoura tão simples
Ele cresceu, ele viveu e ele morreu
Tão simples
Simples, Simples
Simples é o meu Jesus
Simples, Simplesa
Aquele que morreu na cruz
(https://www.vagalume.com.br/nelson-ned/simples.html)
   Em ambas, aparece o termo manjedoura (com ‘j’, embora a etimologia tenha registros com ‘g’) e em minhas divagações fui levada a reflexões etimológicas sobre o termo.
  Durante toda a minha infância, montando presépios no final de novembro ou início de dezembro (período do chamado Advento, em algumas religiões, que vem do latim ‘adventus‘, chegada), sempre achei que a manjedoura era um bercinho. Afinal de contas, havia um bebê deitado ali…
  Mesmo conhecendo a narrativa bíblica, em que o casal só conseguiu abrigo em um estábulo, nunca havia passado pela minha mente infantil que aquele era o objeto mais parecido com um berço que poderia haver naquele local, mas também nunca pensei ‘o que faz um berço dentro do estábulo?’
  Apenas muito mais tarde, ao estudar francês e italiano (depois de passar pelo latim na universidade) e juntei as peças desse quebra-cabeças da minha infância: a manjedoura era, na verdade, um comedouro!
  O termo comedouro, derivado por sufixação do verbo comer é muito mais frequente no nosso cotidiano, mas restou, descendente direto do verbo latino manducare, o verbo manger no francês e mangiare no italiano. Também no português esse termo já foi empregado como verbo (documentado no século XVI, segundo o Dicionário Etimológico de Antônio Geraldo Cunha) e hoje, empregamos apenas como substantivo, no sentido de algum alimento especial.
  E a manjedoura? Local para comer, para colocar o alimento para que seja comido. E o termo vem do italiano mangiatoia. O animais do estábulo cederam gentilmente seu comedouro para o recém-chegado (lembram da referência ao advento?)
  É isso! Espero não ter maçado os não religiosos, mas as reflexões surgiram mesmo da curiosidade a respeito da origem das palavras.
Até a próxima semana!



Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).

Postado em:
https://www.infoenem.com.br/sobre-reflexoes-natalinas-e-etimologicas/

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