segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sobre a economia linguística, parte 2



10/12/2017 Por Margarida Moraes


Sobre a economia linguística, parte 2No artigo anterior mencionei as alterações que os falantes vão incorporando ao idioma e apresentei a aglutinação, resultado da ‘economia linguística’ somada à ‘pressa’ dos falantes. Não lembra?  Clique aqui para acessá-lo. Hoje trataremos da economia resultante de uma certa… preguicinha!
 Trata-se da abreviação (ou redução), que não deve ser confundida com as siglas. Enquanto as siglas são a combinação das iniciais de uma expressão (que podem ser lidas com o nome de cada letra, como FMI, ou podem formar sílabas e palavras, como ENEM ou FUVEST), a abreviação é uma ‘poda’ que se faz em palavras que originalmente são muito longas.
Há inúmeros casos já consagrados pela gramática tradicional:
Cinema, cine < cinematógrafo
  • Extra < extraordinário
  • Foto < fotografia
  • Moto< motocicleta
  • Pneu < pneumático
  • Pornô < pornográfico
  • Quilo < quilograma
            Mas as pessoas são inventivas e já há outros vocábulos de uso corrente na fila para entrar na norma culta, como os que aparecem na música “Não Enche”, de Caetano Veloso (não dos seus trabalhos mais delicados e líricos hehe):
(…) Me larga, não enche
Você não entende nada e eu não vou te fazer entender (…)
Vagaba, vampira
O velho esquema desmorona desta vez pra valer
Tarada, mesquinha
Pensa que é a dona e eu lhe pergunto: quem lhe deu tanto axé?
À-toa, vadia
Começa uma outra história aqui na luz deste dia D:
Na boa, na minha
Eu vou viver dez
Eu vou viver cem
Eu vou viver mil
Eu vou viver sem você
(https://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/nao-enche.html)
Ou nesta, do ‘rapper’ Hungria:
(…)E agora são duas naves em Brasília City
5 mulher, eu e um parça, Deus nos dê limite
Bem equipado bolso cheio vão entrar em choque
Balde de gelo coconut, amarula, ciroc (…)
(https://www.vagalume.com.br/hungria/astronauta.html )
De brinde, temos metonímias no último verso transcrito, em que as marcas são empregadas para fazer referência às bebidas (Amarula é um licor e Ciroc é uma vodca – aliás, essa última palavra é um estrangeirismo já aportuguesado, grafado com ‘c’)
Vagaba, abreviação de vagabundo e parça, de parceiro, já são empregadas correntemente na linguagem coloquial, graças a essa ‘economia linguística’, tão característica da língua falada.
E assim a língua vai se transformando continuamente.
Até a próxima semana!


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).


Postado em:
https://www.infoenem.com.br/sobre-economia-linguistica-parte-2/

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