26/04/2018
Por Matheus
Andrietta
Ao planejarmos e
escrevermos um texto, seja de qualquer tipo e/ou gênero, devemos objetivar que
ele seja, dentre outras coisas, fluido (que a sua leitura flua para o leitor
tanto no sentido formal, de se estar bem escrito e bem pontuado, quanto no
sentido semântico, isto é, em relação aos seus significados), bem organizado em
termos de paragrafação (relação entre parágrafos, com as ideias bem
estruturadas e “costuradas”) e objetivo (sem “enrolar” o leitor, ou
seja, escrever, escrever e não dizer nada) e, para tanto, a coerência
e a coesão são pontos fundamentais, tanto para se escrever textos em provas
oficiais como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os demais vestibulares
quanto quando se escreve na escola, no trabalho, nos afazeres diários etc.
O texto, seja ele
de que tipo e/ou gênero for, deve ser gostoso e fácil de ser lido e, para
conseguir isso, não basta escrever bastante, pois há quem escreva muito na
escola, por exemplo, e não consegue ter muita evolução de um texto para o
outro.
Tenha, para quem
ainda está na escola ou frequenta um cursinho, no professor, além de um
corretor, um mediador, alguém com o qual você possa conversar abertamente sobre
suas redações, ideias e estratégias de escrita. Se só escrever e ler
adiantasse, bastaria trancar os alunos em uma biblioteca por alguns meses.
Obviamente deve-se ler e escrever com certa frequência, inclusive reescrever os
textos já corrigidos pelo professor para refletir sobre o que e como foi
escrito e, claro, para buscar uma melhora, mas ter no docente um mediador,
alguém que incentive e lhe ajude é muito importante.
Para quem não tem
contato com um professor, busque esse mediador em um familiar ou amigo, já que
mesmo em um diálogo cotidiano sobre um tema atual tentamos convencer, sempre, o
nosso interlocutor sobre o que argumentamos, já que sempre respondemos
ativamente a tudo o que ouvimos, lemos e vemos, mesmo que seja com um movimento
de cabeça concordando ou discordando.
Depois desse
parêntese, voltemos à coerência e à coesão. A redação no Enem deve ser coerente
tanto externamente quanto internamente: externamente por ser verossímil
com a realidade, com a sociedade atual, inclusive ao inserir a proposta de
intervenção social (quinta competência), já que ela deve ser palpável,
realizável e não utópica ou possível apenas em um filme de ficção científica,
por exemplo.
O texto deve ser
coerente externamente nos argumentos (principal e auxiliares) e não estar
fundamentado em dados incorretos, inventados ou que expressem algum tipo de
preconceito ou desrespeito aos Direitos
Humanos.
A coerência
interna, por sua vez, se dá em uma sequência lógico-racional das ideias,
tecendo relações de continuidade entre os parágrafos e aí também entra a coesão
para escrever com sentido. Um texto que falha na coerência
possivelmente falhará na coesão.
Ao planejar uma
redação, no rascunho por exemplo, deve-se mirar um texto que leve o leitor a
uma conclusão através de uma lógica interna que ordena a linguagem que evita as
lacunas e os deslocamentos. Uma boa redação não pode ter lacunas, isto é,
espaços para dúvidas do leitor pela presença de quebras de partes fundamentais
para o entendimento. O leitor não pode se perguntar: “como assim?”, “por quê?”,
“o quê?”, “quem?”, “onde?” etc. Já os deslocamentos é quando uma parte
essencial do texto está em um local inapropriado, ou seja, quando a redação
possui problemas de paragrafação.
Um texto coerente
e coeso não é redundante e não generalizante, não é repetitivo tanto no campo
das ideias quanto em relação ao vocabulário, não possui digressões, ou seja,
elementos soltos, sem relação com o texto em si, não tem ideias ambíguas
e/ou com duplo sentido e sim traz bons exemplos, possui adequação ao tema e à
proposta de redação, além de delimitar adequadamente este tema, ser claro e ter
criticidade.
Nesse sentido, é
fundamental e obrigatório estudar conjunções e preposições e atentar-se para as
relações de sentido (causa e consequência, finalidade, oposição, contrariedade,
adição etc.) que elas estabelecem para entender como a coesão e a coerência
funcionam, já que o mais importante, além de saber para que cada uma delas
servem, é que sentido elas irão estabelecer dentro do texto, já que a presença
da incoerência ainda é, infelizmente, bastante forte nos textos dos candidatos,
tanto do Enem quanto dos outros vestibulares.
Deve-se ter
atenção e cuidado para manter o sentido ao longo de toda a redação e não se
contradizer no fim do texto, contradizendo o que foi dito no início, inclusive
em termos opinativos.
Um exemplo do que
não fazer é o caso de uma redação sobre violência contra a mulher que criticava
certos comportamentos femininos que, sob o ponto de vista da autora, causariam
e provocariam a violência: uso de roupas curtas e justas, sair sozinha à noite,
ingerir bebida alcoólica, não ser submissa ao homem como manda a Bíblia dentre
outros. O típico argumento frágil de culpabilizar a vítima. Na conclusão, ao
sugerir sua proposta de intervenção social, a autora afirmou que as mulheres
deveriam aprender defesa pessoal e que devemos combater o machismo dos homens.
Deste modo, esta
redação é completamente incoerente, já que a autora foi machista desde o início
da dissertação-argumentativa! O machismo dela também deve ser combatido! Ou seja,
ela se contradisse e com isso escreveu um texto totalmente incoerente.
Até a próxima
semana!
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Postado em:
https://www.infoenem.com.br/redacao-no-enem-coerencia-e-coesao/
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