Posted: 07 Aug 2014 09:06 AM PDT
A importância de saber ler e escrever
nos é revelada antes mesmo de começarmos a ser alfabetizados e nos é
intrínseca, já que desde muito cedo brincamos com a linguagem por meio de
lápis, caneta, papel, revistas, livros e, com o advento tecnológico, com
celulares, computadores e tablets. A linguagem e as línguas fazem parte da
nossa evolução como espécie.
Quando entramos na escola, a escrita
passa a ser ensinada em seus aspectos formais – ortografia, gramática
normativa, pontuação, estrutura textual, tipos textuais, gêneros, sintaxe,
semântica etc – a fim de que os estudantes aprendam a escrever no dia a dia
segundo suas necessidades e objetivos.
A partir do final do Ensino Fundamental
II, passando pelo Ensino Médio, a escrita é colocada pelos professores como
fator primordial para que seus alunos sejam aprovados nos vestibulares que, por
sua vez, são, no Brasil, o tipo de seleção de candidatos mais utilizado pelas
universidades e faculdades, algo muito criticado, inclusive, mas isso é outra
história.
Neste cenário, a escrita passa a ser
vista pelos, agora, candidatos ao Enem e às demais provas, como obrigação,
assim como as demais disciplinas escolares. A impressão que se tem é que
devemos escrever adequadamente apenas um tipo textual – a
dissertação-argumentativa, já que ela é a maior exigência em exames de produção
de texto, como se só existisse este tipo e não os inúmeros gêneros que circulam
nas mais variadas esferas sociais – para obtermos a nota mínima para
conseguirmos a tão sonhada vaga no curso universitário desejado. E isso é
errado.
Devemos ler e escrever de modo autônomo
e proficiente para a vida, para sermos cidadãos atuantes e protagonistas de
nossos pensamentos. Quem pensa em, apenas, atingir a nota de corte pensa de
maneira medíocre.
Por muitos estudantes pensarem deste
modo, a escrita e a leitura passam a ser vistos como obrigação; o não
incentivo, na infância, à leitura e à escrita contribuem para este cenário,
pois ambas devem ser hábitos prazerosos na rotina de todas as pessoas e, para
tanto, o acesso ao conhecimento deve ser liberado e estimulado. Estes fatores
em conjunto favorecem a ideia de que a Língua Portuguesa é chata e muito
difícil – o que é mentiroso – e a falsa sensação de que escrever é um bicho de
sete cabeças.
Obviamente, devemos levar em conta que
cada indivíduo possui habilidades e preferências diferentes: uns se saem melhor
nas exatas, outros nas biológicas e outros nas humanas e, ainda, há aqueles que
se saem bem em todas as áreas. O problema de sair-se mal em produção de texto e
em leitura, por exemplo, são as consequências para toda a vida, já que nos
comunicamos oralmente e por escrito no ambiente de trabalho, na esfera íntima,
na academia… ou seja, em todos os segmentos.
Os alunos que possuem dificuldades em
escrever e não têm isto como um hábito, ao se depararem com a pressão da escola
e/ou com a necessidade de “passarem” em um Enem ou em um outro vestibular, por
exemplo, ficam desesperados em busca de uma receita perfeita – ou, quem sabe,
mágica – para escrever um texto. Mas esta receita não existe.
Há, apenas, um grande truque, um
segredo para escrever bem e para terminar de escrever um trabalho escolar, uma
dissertação de mestrado, uma tese de doutorado ou qualquer outro tipo ou
gênero: escrever.
A escrita deve ser parte integrante da
rotina de um estudante que está se preparando para prestar o Enem ou um outro
vestibular e não apenas em relação aos estudos da Língua Portuguesa e da
redação; as demais disciplinas devem ser estudadas através da escrita por meio
da produção de rascunhos, resumos, relatórios, projetos, resenhas, respostas
dissertativas, dentre outros.
Todos que lidam, em seu dia a dia,
diretamente com a escrita devem se programar e organizar suas rotinas para
escrever. Os candidatos ao Enem
e aos vestibulares, por exemplo, em relação à redação, devem realizar suas
leituras, discussões e pesquisas antes de fazerem as propostas. Após esta
primeira parte é o momento de escrever.
Sentem-se, de maneira confortável, em
uma cadeira, de frente para uma mesa, em um cômodo agradável e quieto, sem
distrações como internet, celulares, televisão, rádio etc. Disponham-se a
cumprir a proposta de redação de dois modos, alternadamente: sem preocupar-se
com o tempo e controlando-o, como se fosse, realmente, o dia da prova.
Estudantes e candidatos devem se
comprometer a escrever todos os dias e, pensando em redação, a fazer, pelo
menos, uma proposta por semana. Este é o mínimo. Caso seja possível escrever
mais de uma redação por semana, perfeito!
Theresa MacPhail, professora assistente
do Stevens Institute of Technology, nos Estados Unidos, em seu blog, defende –
com razão – que escrever é pensar. Ela afirma, corretamente, que enquanto
escrevemos as ideias vão aparecendo e que, infelizmente, momentos geniais são
raros e que se a escrita fosse encarada como um desafio, principalmente por
aqueles que torcem o nariz para ela, seria muito mais fácil haver uma melhora.
Para MacPhail, devemos nos comprometer com o processo da escrita e não pensar,
apenas, em termos uma nota mínima para atingirmos a nossa meta.
Apostamos que candidatos que obtém
notas máximas no Enem e em demais vestibulares possuem, desde crianças, o gosto
pela leitura e pela escrita e encaram esta como um processo de aprendizagem
eterna e não fazem o mínimo para terem a nota mínima; pelo contrário, eles
fazem o máximo para obterem a nota máxima e, acima de tudo, para serem
proficientes e dominarem a escrita.
Claro que há diferentes estilos de
escrita, mas a disciplina com o processo é de fundamental importância. MacPhail
ressalta que haverá, nesta rotina, bons e maus momentos: haverá dias em que a
escrita deslanchará e haverá outros em que ela parecerá travada, mas isto é normal.
Sempre temos nossos bons e nossos maus dias. A sua dica é escrever, do mesmo
modo, maus dias para, inclusive, aprendermos a lidar com as nossas frustrações
e dificuldades.
Nesta parte do processo, os rascunhos e as revisões são importantíssimos. Como já dissemos em outras publicações, autores consagrados como Guimarães Rosa dedicavam grande parte de seu tempo à revisão de seus livros e devemos fazer o mesmo com as nossas redações reescrevendo-as até elas ficarem do modo como queremos.
Nesta parte do processo, os rascunhos e as revisões são importantíssimos. Como já dissemos em outras publicações, autores consagrados como Guimarães Rosa dedicavam grande parte de seu tempo à revisão de seus livros e devemos fazer o mesmo com as nossas redações reescrevendo-as até elas ficarem do modo como queremos.
Como estudantes e candidatos ao Enem e
aos demais vestibulares, escrever faz parte do trabalho e da rotina. Então,
como finaliza MacPhail em seu texto, parem de ler e vão escrever!
MACPHAIL, Teresa. The no-fail secret to writing a dissertation. Disponível em https://chroniclevitae.com/news/370-the-no-fail-secret-to-writing-a-dissertation?cid=VTKT1.
Acessado em 04/08/2014.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em
Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente
trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua
Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em em importantes
universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções
de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da
Educação (MEC).
Fonte: InfoEnem
http://www.infoenem.com.br
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