Posted: 24 Dec 2015 08:53 AM PST
Hoje a coluna de Redação do Portal
infoEnem analisa a proposta de redação do vestibular 2016 da UNIFESP –
Universidade Federal de São Paulo – do Sistema Misto de Ingresso. O tema da proposta deste
ano foi, no mínimo, surpreendente, já que trata-se de uma polêmica, na nossa
opinião: A adoção da pena de morte pode contribuir para a redução do
número de crimes hediondos no Brasil?
Do modo como está escrito, o tema da
proposta de redação da UNIFESP 2016 relaciona a pena de morte com os crimes
hediondos, isto é, crimes que são considerados de extrema gravidade, como por
exemplo, homicídios, homicídios qualificados, latrocínios (roubos seguidos de
morte), lesões corporais gravíssimas ou seguidas de morte, sequestros,
estupros, estupros de vulnerável, genocídios etc. Portanto, o candidato
deveria, obrigatoriamente, tecer ligações entre a pena de morte e uma possível
diminuição dos crimes hediondos no país e argumentar se acredita ou não nesta
relação direta.
O segundo texto da
coletânea, por sua vez, é uma adaptação de um trecho do livro Cidade de
Muros, de Teresa Caldeira. Nele, a autora informa que a pena de morte
voltou a ser debatida no fim da década de 1980 com a redemocratização do país e
por causa do aumento da violência policial (que continua militar, apesar de não
vivermos mais, felizmente, sob um Estado ditatorial militar) e dos crimes
violentos. De acordo com Caldeira, a pena de morte é frequentemente relacionada
aos crimes hediondos e ela ainda os define, ótimo para o candidato que não
conhece a definição deste tipo de crime.
A autora afirma que a pena capital
reflete, segundo seus apoiadores, o “sentimento popular” de justiça que, para
ela, na verdade, é mais uma vingança do que justiça. O texto ainda traz o dado
de que, no fim da década de 1990, pesquisas indicavam que 70% da população era
a favor da pena de morte e hoje a porcentagem de pessoas favoráveis à pena
capital é de 43%. Para os políticos daquela época que a defendiam, como os
criminosos que cometem crimes hediondos não podem ser recuperados, já que são
“dominados pelo mal”, a pena de morte seria o único modo de evitar que eles
voltem a praticar esse tipo de crime e nem tanto intimidar futuros crimes.
Já o terceiro texto fonte,
de Julita Lemgruber, apresenta três dados sobre a pena de morte oriundos dos
Estados Unidos e Canadá. Segundo a autora, nos Estados Unidos, onde a pena de
morte foi reintroduzida em 1976, a taxa de homicídios por cem mil habitantes é
de duas a quatro vezes maior à registrada em países que não aplicam tal punição,
como os da Europa Ocidental. Nos estados norte-americanos que não preveem a
pena capital, de acordo com o texto, a taxa de homicídios é menor do que nos
estados nos quais há a previsão da pena de morte e, no Canadá, em 1975, um ano
antes da extinção da pena capital, a taxa de homicídios era de 3,09 por cem mil
habitantes e em 1993 era de 2,19, ou seja, 27% menor.
Para Lemgruber, a relação entre pena de
morte e controle de criminalidade é posta de maneira irresponsável no Brasil,
como se fosse a única e “mágica” solução para todos os problemas relativos à
segurança. Segundo a autora, isso não passa de demagogia.
Os textos da coletânea textual,
sobretudo o segundo e o terceiro, tendem a levar o candidato a questionar a
eficácia da pena de morte posta a fim de diminuir os crimes hediondos, já que
criticam os argumentos favoráveis baseados na “vontade popular” e trazem dados
contrários a esta relação. Porém, acreditamos que nada impede a argumentação
favorável à pena de morte pelo candidato que assim pensa.
*CAMILA DALLA POZZA
PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além
disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais
didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
Postado em:
https://www.infoenem.com.br
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