01/02/2018
Por Camila Dalla Pozza

Deste montante, apenas 53
dissertações-argumentativas obtiveram nota máxima (1.000 pontos), uma
queda em comparação aos 77 textos que conseguiram atingir a nota
máxima no Enem
de 2016. Os números de redações que alcançam a nota máxima no exame sempre
foram baixos, algo que não vai de encontro às correções dos vestibulares mais
importantes do país, nos quais a correção cria uma curva de notas mais
homogênea e distribuída.
No outro extremo, receberam nota zero 309.157
textos e a maioria foi devido a fuga do tema proposto, algo infelizmente já
esperado devido a surpresa que o tema causou no primeiro domingo de provas.
Para a grande maioria dos participantes e dos professores de Língua Portuguesa
e de Redação, abordar a educação de surdos no Brasil foi algo surpreendente,
apesar de necessário, pois quase ninguém imaginava a abordagem de algo tão
específico, já que a inclusão normalmente é discutida de modo mais amplo nas
escolas; isso quando é discutida, cá entre nós.
O número altíssimo de redações que fugiram do tema
indica dois fatos: a escola, como um todo, precisa discutir e debater todas as
formas de inclusão e não apenas de maneira abrangente e generalista, mas também
separada, pois cada deficiência requer um modo de inclusão; esses participantes
não são, infelizmente, leitores proficientes, pois não cumpriram o tema
proposto.
A coletânea de textos apresentava algumas
“pegadinhas”, como por exemplo, a menção ao Braile, o que pode ter
confundido vários participantes que abordaram também ou exclusivamente as pessoas
portadoras de deficiência visual.
Neste aspecto, houve um aumento de redações que
obtiveram nota zero comparado ao Enem 2016. Naquele ano, 0,78% dos textos
receberam nota zero; em 2017, foram 5,01%.
Porém, no geral, os participantes do Enem 2017
obtiveram melhor desempenho do que os de 2016. A média passou dos 541,9 pontos
para 558 pontos, o que ainda é uma nota mediana.
Em relação ao desrespeito aos direitos humanos,
segundo o MEC, 205 textos desrespeitaram os direitos humanos, mas não foram
anulados de acordo com a decisão do Supremo Tribunal Federal.
Em suma, os resultados da prova de redação do Enem
2017 mostram que existe uma realidade educacional heterogênea no nosso país, já
que não existe uma qualidade padronizada de ensino e, deste modo, os alunos não
têm acesso às mesmas oportunidades. Se a educação pública brasileira tivesse
uma qualidade de ensino e de infraestrutura homogênea, sem dúvidas que os
números seriam outros. Além disso, o universo de candidatos ao Enem é um
universo muito mais diverso do que dos vestibulares tradicionais e isso deve
ser levado em consideração.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é
graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação.
Postado
em:
https://www.infoenem.com.br/enem-2017-resultados-da-prova-de-redacao/
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