Posted: 01 Nov 2015 06:17 AM PST
Antes de começar falar sobre
ortografia, queria destacar que, na semana passada, não foi publicado o texto
desta coluna por causa da realização das provas do Enem 2015.
No artigo anterior, vimos alguns casos
de dúvidas comuns a respeito de ortografia e algumas dicas para não errar,
observando o radical da palavra. (Não leu? Clique aqui e acesse o
artigo)
Como sempre ficam perguntas no ar, esta
semana um aluno me questionou sobre a grafia nos casos em que há duas flexões
ao mesmo tempo na palavra. Como assim, duas flexões? Quando, por exemplo, ao
mesmo tempo passamos um substantivo para o diminutivo (flexão de grau) e para o
plural (flexão de número).
- terminados em vogal é feito pelo acréscimo de ‘s’: provas, alunos, exames;
- terminados em ‘r’, ‘z’ e ‘n’ é feito pelo acréscimo de ‘es’: mares, rapazes, abdômenes (há também a forma abdomens);
- terminados em ‘al’, ‘el’, ‘ol’, ‘ul’ é feito substituindo-se o ‘l’ por ‘is’: animais, pastéis, faróis, pauis (não se assuste: paul é sinônimo de pântano e você já tem uma dica ótima para usar no jogo de forca ou para fazer palavras-cruzadas hehe). No caso do ‘il’, se a palavra for oxítona, troca-se o ‘l’ por ‘s’ (barril > barris) e se for paroxítona, troca-se o ‘il’ por ‘eis’ (réptil > repteis).
Antes de continuarmos os lembretes, eu
gostaria de reforçar que, por uma tendência para igualar a pronúncia do ‘l’
final ao ‘u’, muitas pessoas se atrapalham com esses plurais, então cuidado
redobrado com degrau, troféu e pastel:
Você subirá os degraus, receberá
os troféus e comemorará comendo pastéis!
Há também os substantivos terminados em
‘ão’ e aqui ‘a porca torce o rabo’: há três possibilidades diferentes de
alteração para as palavras terminadas nesse ditongo, porque há três origens
diferentes, no Latim, que acabaram convergindo para o tal ditongo no Português
atual. A questão é que os plurais do Latim vieram em paralelo e sofreram outros
tipos de alterações pelo percurso, virando plurais diferentes.
Resumindo (pois o Latim não é o foco),
os resultados foram as alterações de ‘ão’ para ‘ãos’, ‘ões’ ou ‘ães’.
Assim, temos:
- Mão – mãos
- Cidadão – cidadãos
- Gavião – gaviões
- Operação – operações
- Pão – pães
- Alemão – alemães
Infelizmente, não há uma regra, no
Português atual, que nos ajude no caso desses plurais. Teremos de nos valer da
memória e da leitura para ampliação do vocabulário.
A terminação ‘ão’ também é um
dos sufixos de formação do aumentativo (flexão de grau). Agora, então,
vamos misturar: primeiro o acréscimo do sufixo de aumentativo e por último a
desinência ‘s’ de número plural, assim:
Casa > casarão (aumentativo) > casarões (plural do ‘ão’ + ‘s’)
Casa > casarão (aumentativo) > casarões (plural do ‘ão’ + ‘s’)
E o diminutivo? Bem, nesse caso
precisaremos de mais atenção! Em primeiro lugar passamos o termo para o plural,
com as alterações específicas do ditongo nasal:
- Fogão > fogões
Em seguida, destacamos o ‘s’ de
plural e o reservamos num cantinho para, em seguida, acrescentarmos o sufixo de
diminutivo ‘inho’ (neste caso com a consoante de ligação ‘z’) e
depois, no fim da palavra, acrescentamos o ‘s’ que estava reservado, assim:
Fogõe + z + inho + s
> fogõezinhos
O mesmo acontecerá com
- Leãozinho – leõezinhos
- Pãozinho – pãezinhos
- Portão – portõezinhos
Se as alterações forem a passagem para
o feminino (flexão de gênero), para o diminutivo (flexão de grau) e para o
plural (flexão de número), o processo é o mesmo e a marca de plural será sempre
a última:
- Anão – anã – anãzinha(s)
- Irmão – irmã – irmãzinha(s)
- Leitão – leitoa – leitoazinha(s)
E para finalizar a prosa de hoje, segue
uma recomendação que Vinicius de Morais faz aos casais que namoram no cinema:
não devem importunar os que querem de verdade assistir ao filme. A recomendação
é feita com diminutivos cheios de afetividade, como devem ser os namoros:
(…) Nada perturba mais que o cochicho
constante e embora eu saiba que isso é pedir muito dos namorados, é necessário
que se contenham nesse ponto, porque afinal de contas aquilo não é casa deles.
Um homem pode fazer milhões de coisas – massagem no braço da namorada, cosquinha
no seu joelho, festinha no rostinho delazinha(…)1
… podem fazer tudo isso no diminutivo2,
mas discretamente
Até a próxima!
_____________________
1 Texto completo em: http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/cinema/como-se-comportar-no-cinema
Acesso em 24-10-2015
2 Só um lembrete: Vinícius usou a
licença poética para usar diminutivos coloquiais e para flexionar o pronome,
que a rigor, não sofre esse tipo de alteração.
Margarida Moraes é formada em Letras
pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais
de 20 anos de experiência, corretora do nosso sistema de correção de redação e
responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a
professora é colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são
publicados todos os domingos. Não perca!
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